Farol da Ponta Alegre, Santa Isabel e Pedro Osório

por | mar 29, 2022 | BRASIL | 0 Comentários

Farol da Ponta Alegre, Santa Isabel e Pedro Osório.

Marcos: BMW R 1250 GS Adventure HP

Humberto: BMW R 1200 GS Adventure Rally

Nosso planejamento é irmos conhecer o Farol da Ponta Alegre, no município de Arroio Grande onde acamparemos e, no dia seguinte, visitarmos a Vila de Santa Isabel do Sul, também distrito de Arroio Grande, e a cidade de Pedro Osório. Estes dois últimos locais fazem parte da história da minha família e, mais adiante neste relato, falarei um pouco sobre isso.

Saímos de Porto Alegre no dia 12 de novembro de 2021, sexta-feira, em torno das 20h30min pela BR 116 em direção ao sul do Estado com destino à cidade de Pelotas, onde passamos a noite. A distância de aproximadamente 260 Km se dá por uma rodovia quase toda duplicada e bem sinalizada. No caminho existem diversos pontos de parada para alimentação e descanso, sendo os mais conhecidos o Paradouro Grill, no quilômetro 428, distante cerca de 160 Km de Porto Alegre, no município de Cristal logo após passar a ponte sobre o rio Camaquã, e o Posto Coqueiro no quilômetro 453, distante cerca de 185 Km.

Chegamos em Pelotas por volta da meia-noite ficando hospedado no Hotel Curi Executive. O local é agradável, com estacionamento coberto para as motos, café da manhã e com preço bastante razoável.

Na manhã seguinte, após comprarmos alguns itens e abastecermos as motos, partimos pela mesma BR 116 em direção ao Farol da Ponta Alegre. De Pelotas fomos direto até a cidade de Arroio Grande, onde chegamos no final da manhã. A distância de 95 Km se dá por uma rodovia com longas retas, de pista simples e pavimentação muito boa. As características deste trajeto da BR 116 favorecem ao excesso de velocidade o que faz com que o cuidado seja maior, pois é bastante comum encontrarmos outros veículos com a velocidade bem acima da máxima permitida, inclusive com ultrapassagens perigosas. Em determinado local fui obrigado a dar espaço para uma camionete que fazia uma ultrapassagem em sentido contrário ao nosso.

Almoçamos em Arroio Grande no restaurante Robledu’s, na avenida Visconde de Mauá, entrada da cidade. Um restaurante simples, com boa comida, porém com preço um pouco acima do esperado.

Saindo de Arroio Grande continuamos por mais 3 Km pela BR 116 em direção sul, onde se entra em uma estrada de terra à esquerda da via. Essa estrada é a que nos leva até o farol da Ponta Alegre, distante cerca de 40 Km da BR 116. Enquanto estávamos fazendo o planejamento da viagem, encontramos postagens relatando que os 10 Km finais do caminho seriam percorridos a pé por falta de estradas trafegáveis. Nos chamou a atenção fotos publicadas no Google Maps que mostravam algumas motos e um carro junto ao farol. Isso fez com que nosso planejamento incluísse duas opções que seriam tentar chegar no farol com as motos ou deixá-las pelo caminho e seguirmos caminhando.

Entramos na estrada de terra onde os primeiros 25 Km são bastante tranquilos, com um off road bem leve, sem qualquer obstáculo. Ao final deste trajeto se chega à entrada da Granja Bretanha de onde se segue à esquerda pela rodovia por mais 1,5 Km ainda em estrada tranquila. Neste ponto a estrada faz uma curva de 90° seguindo em direção às propriedades rurais da região. A partir dali o caminho fica um pouco mais difícil, com trechos de cavas bastante profundas, porém de trafegabilidade sem maiores dificuldades. No caminho até o farol passamos por dentro destas propriedades, sendo necessário abrir algumas porteiras. A paisagem é de uma beleza indescritível, com os campos, lagos e arroios proporcionando um visual espetacular. Os rebanhos de gado transitam livremente pelo campo, cruzando a estrada a todo instante com um olhar curioso sobre nós sem, no entanto, qualquer demonstração de medo ou agressividade. Essa parte do trajeto, por serem campos de baixa altitude, fica alagada em épocas de chuvas impedindo a passagem de veículos.  Quanto mais próximos ao farol, mais instigante é a paisagem. Nos últimos quilômetros o farol surgiu ao longe com a imponência de quem ali está, mesmo adormecido, determinando o domínio sobre aquelas terras à beira da lagoa Mirim. Aos poucos fomos nos aproximando e a consagração por ter conseguido percorrer todo o caminho sobre as motos me fez relaxar e nesse único momento de descuido fui surpreendido por um bolsão de areia que me fez ir ao chão. Tudo bem. A conquista de ter chegado até o farol foi maior e a alegria do momento superou de longe uma queda.

O farol da Ponta Alegre é uma construção quadrangular com 16 metros de altura. Sua inauguração é datada de 20 de setembro de 1908 e servia de orientação para a navegação na lagoa Mirim, sendo desativado em 1950. Mesmo sem estar em funcionamento, o farol ainda serve de guia para os navegadores da lagoa sendo avistado a uma distância de 8 milhas.

Poucos metros antes do farol abrimos a última porteira. Já eram cerca de 15 horas quando passamos com as motos em meio aos campos que circundam a construção, com um vento intenso nos fazendo companhia. Após fazermos o reconhecimento do local, montamos nosso acampamento. Os campos ao redor são repletos de vida, com aves nativas, alguns cavalos e a lagoa Mirim a cerca de 200 metros de nós. Durante a noite os vagalumes dão um espetáculo à parte. Passamos a noite acampados ali, com a conversa sempre muito agradável e engrandecedora com o Humberto, jantando macarrão com atum e sardinha e o acompanhamento de uma cachaça armazenada em barril de carvalho com um cubano Cohiba. De lá é possível avistar as luzes da localidade de Capilha, no lado opsto da Lagoa Mirim, já no município do Rio Grande. A noite foi um tanto tumultuada pelo barulho do vento nas barracas entrecortando o sono.

Pela manhã o nascer do sol na lagoa fez um espetáculo à parte, mesmo ainda acompanhado do vento intenso. Ao preparamos nosso café recebemos a vista de uma cobra verde, passeando por nossa cozinha improvisada junto ao farol. Uma vez alimentados, levantamos acampamento e partimos, já em torno das 9 horas. Nosso destino seria a Vila de Santa Isabel, 3º distrito de Arroio Grande e local de nascimento de minha avó materna, onde existem raízes históricas de minha família.

Retornamos para Arroio Grande pela mesma estrada que nos levou ao farol, chegando à cidade em torno das 10h30min. Após almoçarmos seguimos em direção à Santa Isabel pela BR 116 desta vez em sentido norte, retornando em direção à Pelotas. A distância que separa Arroio Grande é de 56 Km. Os primeiros 30 Km são percorridos pelo asfalto da BR 116. Após existe um acesso à direita da rodovia onde se ingressa em uma estrada não pavimentada, porém de fácil pilotagem por onde se percorre mais 26 Km. Chegamos em Santa Isabel já passava um pouco das 13h30min.

Passei minha infância e adolescência ouvindo as histórias da família Costa contada por minha avó materna e madrinha, Daicy da Costa Medeiros. A presença da minha avó foi extremamente marcante em minha vida, com uma grande influência em na formação pessoal. As férias escolares eram esperadas ansiosamente para que eu pudesse passar todo o período em sua casa. Nas conversas que tínhamos vinham as histórias da família, da sua infância, irmãos e pais. Meu bisavô Maximiano Tupinanbá da Costa fixou residência por algum tempo em Santa Isabel onde, no ano de 1918, nasceu minha avó, penúltima de uma prole de 12 filhos.

Santa Isabel é uma pequena vila às margens do Canal São Gonçalo, via fluvial de 60 Km que liga a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim. A localidade tem poucos habitantes que vivem da pesca e do pequeno comércio local. As ruas não são pavimentadas e as casas são extremante simples. No final do século XVIII navegadores do canal que mais tarde seria denominado São Gonçalo iniciaram o povoamento na margem oeste onde, com o tempo, se tornou um porto de comércio de mercadorias. No ano de 1865 a Vila foi visitada por Dom Pedro II quando em viagem entre Jaguarão e Pelotas pelo Canal São Gonçalo.  No século XIX Santa Isabel, pertencendo à Arroio Grande, iniciou um movimento de emancipação alegando descaso da administração municipal, o que foi consolidado em 1883. Na época a condição econômica era bastante favorável devido ao charque e Santa Isabel tinha belas construções decoradas com azulejos portugueses. Hoje ainda restam ruínas destas construções onde, em uma delas, supomos ter sido a residência de meu bisavô. A emancipação durou por 10 anos quando no ano de 1893 voltou a ser distrito de Arroio Grande. Desde então Santa Isabel entrou em declínio, com suas construções e sua história se deteriorando ao longo do tempo.

Logo que entramos em Santa Isabel paramos sob a sombra de uma árvore. Em poucos minutos chegou o Amorim, um motociclista morador local, para nos dar as boas vindas ao ter nos avistado da janela de sua casa. Após uma breve conversa nos levou à sua residência onde tem uma pequena lanchonete.  Saindo da casa do Amorim fomos passear pela pequena vila passando em frente às ruínas da suposta casa do meu bisavô onde ainda restam vestígios dos azulejos portugueses. Circulamos pela beira do Canal São Gonçalo e ao redor da Igreja e, enquanto fotografávamos, fomos abordados pelo responsável pelos cuidados do templo religioso que o abriu para que pudéssemos conhecer seu interior. A igreja foi inaugurada em 1861 e em seu interior existe a pia batismal que, também por suposição pessoal, seria o local de batismo de minha avó.

A Vila de Santa Isabel parece ter parado no tempo. Fiquei imaginando meus antepassados circulando por aquelas ruas, pela Igreja e pela margem do Canal São Gonçalo. Uma localidade repleta de histórias, porém esquecida no tempo.

Saímos de Santa Isabel em torno das 15 horas em direção à cidade de Pedro Osório, outra referência familiar. Após meu bisavô ter saído de Santa Isabel, foi morar no Uruguai e, retornando ao Brasil, se instalou na cidade de Pedro Osório, onde exerceu a atividade cartorial. Em Pedro Osório terminou de criar os filhos de onde a maioria partiu para dar seguimento às suas vidas. Também lá estive diversas vezes em minha infância, acompanhado por minha avó em visitas aos familiares que lá permaneceram.

A distância entre Santa Isabel e Pedro Osório é de 37 Km, sendo os primeiros 25 Km em estrada de terra com alguns trechos com areia mais solta. A estrada é um pouco pior do que a utilizada para chegar em Santa Isabel, mas ainda assim é tranquila. Após cruzarmos a BR 116 o trajeto de 12 Km passa a ser asfaltado até a entrada da cidade. 

Chegamos em Pedro Osório já passavam das 16 horas. Os pontos pelos quais eu planejei passar seriam a casa onde morou meu bisavô e a rua que leva seu nome, uma das principais da cidade. A pequena cidade de Pedro Osório tem a simplicidade das pequenas cidades do interior do Rio Grande do Sul acrescida de uma simpatia peculiar. A praça central e arredores traduzem muito bem essa sensação. Distante cerca de 58 Km de Pelotas, a cidade conta com uma população aproximada de pouco mais de 8.000 habitantes.  O município, formado pela união das vilas de Olimpo e Cerrito, foi emancipado de Arroio Grande e Canguçu no ano de 1959, assim se mantendo até o ano de 1996 quando Cerrito se emancipou de Pedro Osório. A economia é baseada no comércio, serviços públicos e olarias.

Em pouco tempo já havíamos passado pelos locais pretendidos e estávamos prontos para retornarmos para Pelotas. Após tirarmos algumas fotografias iniciamos nosso retorno para Pelotas, onde nos hospedamos no mesmo hotel que havíamos ficado no primeiro dia da viagem. Na manhã seguinte retornamos para Porto Alegre pela mesma BR 116, chegando em casa em torno das 14h45min.

A viagem desta vez teve uma motivação pessoal, buscando os locais de origem da minha família materna. Embora eu já estivera anteriormente nestes lugares, esse registro foi a união entre minha história familiar e as viagens de motocicleta.  Andar pelas ruas de Santa Isabel e imaginar que há mais de 100 anos meu bisavô e sua família também percorriam as mesmas ruas, ainda hoje sem qualquer pavimentação, que participavam dos cultos religiosos na mesma igreja onde tive a oportunidade de entrar, que tinham a mesma visão do Canal São Gonçalo, é algo que emociona. Estar à frente da casa onde minha avó, juntamente com seus pais e irmãos, passou a juventude na cidade de Pedro Osório e poder trafegar na rua que leva o nome do meu bisavô, também traz sentimentos fantásticos. Talvez muitos não consigam entender tal motivação ao que explico se tratar de valores de família, valores estes que foram passados pelas gerações que me antecederam chegando até mim de forma bastante sólida.

 

A caminho do Farol da Ponta Alegre

A caminho do Farol da Ponta Alegre

A caminho do Farol da Ponta Alegre

A caminho do Farol da Ponta Alegre

Farol da Ponta Alegre

Farol da Ponta Alegre

Farol da Ponta Alegre

Farol da Ponta Alegre

Farol da Ponta Alegre

Farol da Ponta Alegre

Lagoa Mirim

Lagoa Mirim

Lagoa Mirim

Lagoa Mirim

Lagoa Mirim

Acampamento

Lagoa Mirim

Lagoa Mirim

Acampamento

Farol da Ponta Alegre à noite

Cohiba e cachaça.

Amanhecer na Lagoa Mirim

 

 

 

Chegada em Santa Isabel

Santa Isabel

Santa Isabel

Santa Isabel – ruínas da possível casa da família Costa

Santa Isabel – ruínas da possível casa da família Costa

Santa Isabel – ruínas da possível casa da família Costa. Detalhe dos azulejos portugueses

Santa Isabel – Canal São Gonçalo

Santa Isabel – Canal São Gonçalo

Santa Isabel – Canal São Gonçalo

Santa Isabel – Igreja

Santa Isabel – Igreja

Santa Isabel – Igreja. Pia batismal

Pedro Osório – casa da família de Maximiano Tupinambá da Costa

Pedro Osório – Rua Maximiano Tupinambá da Costa

Pedro Osório – Rua Maximiano Tupinambá da Costa

Pedro Osório – Rua Maximiano Tupinambá da Costa

 

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens Recentes